Abordagem da Homeopatia Sistêmica no tratamento da rinite bilateral crônica em felino

Abordagem da Homeopatia Sistêmica no tratamento da rinite bilateral crônica em felino
Sistemic Homeopathy approach in the treatment of feline chronic bilateral rhinitis
Maria Luiza Delavechia1; Índia Clara Limeira Souza de Medeiros2; Daniele Mello Cunha3; Victor Feichas Szpunar2; Daiana Ângelo Gomes Santana4

1 – Hospital Universitário Veterinário Firmino Mársico Filho – Universidade Federal Fluminense (HUVET – UFF), Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em Homeopatia (ABRAH) e Instituto Hahnemanniano do Brasil
(IHB); 2 – Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em Homeopatia (ABRAH); 3 – ABRAH e IHB; 4 –
Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense (UFF) e ABRAH
1 – vechia@globo.com
Palavras-chave: Homeopatia Sistêmica, rinite, felino.
Keywords: Sistemic Homeopathy, rhinitis, feline.
INTRODUÇÃO
A rinite viral em felinos é uma doença prevalente, cuja etiologia, em 80 a 90% dos casos de infecção do trato respiratório superior, corresponde ao Herpesvírus felino (FHV-1) e o Calicivírus felino (FCV). Os sinais clínicos
iniciais são espirros, conjuntivite e secreção ocular e nasal, a qual passa de serosa a mucopurulenta com o desenvolvimento da inflamação. Esta condição, em geral, persiste por 2 a 3 semanas. Em menor frequência, as rinites em felinos também podem ser causadas por fungos, principalmente o Cryptococcus neoformans nos climas tropicais; outros fungos, de caráter oportunista são o Aspergillus spp. e o Penicillium spp. (1). A forma crônica tem
origem na infecção por bactérias após a inflamação e agressão das mucosas nasais e dos seios nasais. Os sintomas da forma crônica são mais graves, havendo secreção purulenta abundante, espirros paroxísticos e respiração
estertorosa pela boca. O tratamento alopático envolve o uso continuado de antifúngicos, antibióticos e corticoides, mas os resultados são insatisfatórios na grande maioria dos casos e a ocorrência de cura é rara (2).

Na visão da Homeopatia, as moléstias inflamatórias que acometem as mucosas, caracterizadas por secreção abundante, pertencem à esfera diatésica da Sicose. A abordagem da Homeopatia Sistêmica considera que
este aspecto inflamatório da Sicose deva-se à deficiência na produção de anticorpos IgAS (IgA secretor), protetores de mucosas, fazendo com que estas sejam mais vulneráveis à ação dos microrganismos patogênicos e à
cronificação dos processos infecciosos locais (3).
O objetivo deste trabalho é avaliar os resultados do tratamento homeopático sistêmico em um felino adulto portador de rinite bilateral crônica.
MATERIAL E MÉTODOS
Felino da raça Persa, sexo masculino, 3 anos de idade, foi atendido no setor de Homeopatia do Hospital Universitário Veterinário Firmino Mársico Filho, da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense. O animal apresentava moléstia respiratória crônica desde os 4 meses de idade, caracterizada por secreção mucopurulenta abundante. Este quadro teve início após a instalação de um quadro agudo respiratório (rinotraqueíte). O animal foi submetido a tratamento com Enrofloxacino por 40 dias, além de antifúngicos e
corticoides por um ano continuamente. No momento da consulta, o uso de antibióticos não propiciava qualquer melhora, e o animal passou a emagrecer e apresentar vômito, desenvolvendo gastrite.
O animal havia sido submetido à tomografia computadorizada, a qual diagnosticou rinite bilateral e uma variação conformacional congênita dos seios frontais e labirinto etmoidal, com assimetria e ausência parcial das
trabeculações do labirinto etmoidal. Os seios frontais foram vistos como hipoplásicos e assimétricos. Exames radiográficos do tórax evidenciaram broncopatia e exames laboratoriais demonstraram alterações
(anemia, leucopenia, neutrofilia, linfopenia, alterações em ALT, AST, ureia e creatinina).
No exame clínico, o animal apresentava pelagem eriçada e sem brilho, respiração estertorosa e adinamia, com secreção nasal mucopurulenta que piorava com mudanças de clima. Esta secreção era espessa, filamentosa e endurecia ao contato com o ar . A ausculta pulmonar era ruidosa.

Foram prescritos Hippozaeninum 30CH, 3 vezes ao dia, como bioterápico; Kali bichromicum 6CH na mesma frequência, escolhido pelas eliminações mucosas características da Sicose e pela totalidade dos sintomas; e Hydrastis canadensis 6CH, na mesma frequência, utilizado como um medicamento drenador das secreções. Após 30 dias de medicação, Hydrastis canadensis foi substituído por Dulcamara 6CH, na mesma frequência, devido à característica da piora em mudanças de clima.
RESULTADOS
Após 30 dias do início da medicação, o animal apresentou melhora considerável, apresentando secreção escassa, menos densa e mais clara. 60 dias após a primeira consulta, o felino demonstrou mudanças em sua
condição corporal – ganho de peso e melhora na condição da pelagem – e em sua disposição, apresentando-se mais ativo. A secreção havia escasseado ainda mais. Após 90 dias, a secreção nasal havia cessado totalmente, e não havia recidivas mesmo em mudanças de clima. A condição corporal e a disposição do animal continuaram normais, assim como a ausculta pulmonar, sem estertores ou ruídos. Atualmente, o animal encontra-se estável e sem recidivas, mesmo em mudanças de clima e sem medicação.
DISCUSSÃO
A infecção respiratória inicial, desencadeada por vírus do Complexo Respiratório Felino, cronificou-se primeiramente devido à uma tendência sicótica do indivíduo, a qual propiciava a continuidade do processo inflamatório desencadeado por microrganismos. O animal ora tratado, seguindo a tendência da raça Persa, possui características do biótipo Carbônico, e assim, a tendência ao desenvolvimento da Sicose é compatível (3). Concomitante à ação diatésica, as alterações congênitas nos seios frontais e labirinto etmoidal provavelmente dificultavam a exoneração das secreções resultantes e assim, a regeneração das mucosas, concorrendo para a cronificação do distúrbio.

Os resultados verificados podem ter sido alcançados pela ação dos medicamentos homeopáticos sobre a totalidade do sistema e no auxílio à drenagem das secreções acumuladas em seios frontais. Para a Homeopatia Sistêmica, o caso em questão se trata de um distúrbio de saúde intrínseco, de caráter diatésico, no qual as anormalidades anatômicas diagnosticadas no indivíduo constituem um bloqueio emunctorial relacionado ao distúrbio de
saúde. Neste caso, é necessário o emprego do medicamento drenador, o qual age nos sistemas e mecanismos de ação responsáveis pela dissipação das secreções acumuladas (3), e com este fim, utilizou-se Hydrastis canadensis.
Neste quadro, também se faz necessária a utilização do medicamento de fundo, chamado Sistêmico, o qual agirá na totalidade do organismo, escolhido pela correspondência dos sintomas para atuar principalmente nos sistemas
mais frágeis, promovendo o equilíbrio (3). Neste caso, a utilização do Kali bichromicum correspondeu aos sintomas observados em sua Matéria Médica, na qual encontramos as afecções de mucosas com secreções mucopurulentas
amareladas, espessas, aderentes, viscosas e filamentosas, que podem formar tampões mucosos aderentes e de difícil eliminação, além da sinusite frontal crônica (4).
CONCLUSÃO
A utilização dos medicamentos homeopáticos de acordo com a teoria da Homeopatia Sistêmica, utilizando-os com a função de drenagem e como medicamento sistêmico, foi eficaz no tratamento da rinite crônica felina.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 – Haagen AJV, Herrtage, ME. Diseases of the nose and nasal sinuses. In:
Ettinger SJ, Feldman EC. Textboook of Veterinary Internal Medicine. 7th ed.
Missouri: Saunders Elsevier; 2010. p. 1030 – 40.
2 – Kuehn NF, Taylor SM, Dyer NW, Hauptman J. Rhinitis and sinusitis in cats.
In: Aiello SE. The Merck Manual Pet Edition. Kenilworth: Merck Manuals; 2015.
Disponível em: URL: http://http://www.merckvetmanual.com/pethealth/cat_disorders_and_diseases/lung_and_airway_disorders_of_cats/rhinitis_and_sinusitis_in_cats.html.

3 – Carillo Junior R. Homeopatia, Medicina Interna e Terapêutica. 2th ed. São
Paulo: Homeolivros; 2007. p. 63 – 8.
4 – Vijnovsky B. Tratado de Matéria Médica Homeopática vol. 2. São Paulo:
Editora Organon; 2003. p. 152 – 58.

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