Homeopatia Sistêmica e o vírus Zika

 

Protocolo da ABRAH sobre a Epidemia causada pelo vírus Zika

Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em Homeopatia

Prof. Romeu Carillo Junior

Tendo em vista a relevância do tema assim como as diversas lacunas ainda existentes sobre a patogenicidade, características clínicas e complicações decorrentes da infecção pelo vírus Zika, assim como de uma possível atuação da terapêutica homeopática, a Associação Brasileira de Reciclagem e Assistência em Homeopatia (ABRAH), através de seus orientadores, professores e alunos, numa reunião nacional realizada em São Paulo, no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, contando presencialmente com 68 componentes e com outros tantos acompanhando via Internet no Rio de Janeiro e em outras regiões do Brasil, discutiu no dia 12 próximo passado algumas questões de significativa importância sobre o tema e determinou diretrizes para um programa de estudo epidemiológico que possa contribuir para a solução do atual cenário

Partindo do protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo virus Zika e do plano nacional de enfrentamento à microcefalia no Brasil, ambos do Ministério da Saúde, com atualização do dia 08/12/2015, iniciamos nossas discussões sobre as bases das possíveis ações fundamentadas nos conhecimentos atuais e nas bases da Homeopatia instituídas por Samuel Hahnemann.

As informações e conclusões geradas pela discussão, como o próprio comunicado do Ministério da Saúde ressalta, “são passíveis de revisão e mudanças frente às eventuais incorporações de novos conhecimentos e outras evidências, bem como da necessidade de adequações das ações de vigilância em cenário epidemiológico futuro”.

Nossas ações sob o ponto de vista homeopático dependem fundamentalmente do apoio e empenho de todas as instituições de saúde no sentido de notificar todos os sintomas característicos dessa epidemia. Como expõe Hahnemann no parágrafo 100 do Organon: “Na investigação da totalidade sintomática das doenças epidêmicas ou esporádicas, é de menor importância”saber se alguma coisa semelhante já surgiu no mundo sob o mesmo nome ou outro qualquer”. Refere-se ao fato de que cada Epidemia tem suas próprias características e continua no mesmo parágrafo: “O médico deve, de qualquer modo, encarar o quadro puro de cada doença dominante como se fosse algo novo e desconhecido, investigando-a toda”.

Segundo ele, portanto, não se deve utilizar medicamento homeopático como gênio epidêmico, seja ele simples ou composto, apenas por ter sido útil em outra circunstância parecida. Não se trata de aceitar cegamente as instruções do Mestre de Meissen, trata-se da lógica com que ele trata o assunto. A investigação das características dos sintomas e do comportamento de cada Epidemia em particular é fundamental para a busca do medicamento mais adequado. Ainda no mesmo parágrafo Hahnemann afirma: “Essa conduta é de máxima necessidade em tais casos, visto que o exame cuidadoso demonstrará que cada doença é em muitos aspectos um fenômeno de caráter exclusivo, diferindo grandemente das epidemias anteriores às quais erroneamente se aplicou certas designações”.

É interessante que Hahnemann faça referência às doenças epidêmicas características da infância como o Sarampo e à Varíola com uma ressalva: “São exceções as epidemias resultantes de agentes contagiosos que sempre permanecem os mesmos, como a varíola, sarampo, etc”. Nessas, o gênio epidêmico parece ser sempre o mesmo, o que não é o caso da Dengue ou da Zika. Aliás, sempre tivemos uma ressalva quanto ao comportamento das epidemias onde existe um vetor. Nesse caso, parece haver uma desorganização entre diferentes níveis de padrão de organização, como na Peste Negra, com aumento das pulgas transmissoras da doença que dizimou um terço da população da Europa. Na verdade, ao nosso ver, as epidemias transmitidas por vetores como a Dengue e a Zika, tem caráter diferenciado das de Varíola ou Gripe Espanhola, por exemplo.

Uma outra questão se relaciona à individualidade. Muito embora Dengue e Zika tenham comportamento epidêmico, tendências diatésicas individuais parecem diferenciar os quadros clínicos. É provável que indivíduos sifilínicos com tendência hemorrágica tenham maior susceptibilidade à Febre Hemorrágica do Dengue (FHD), por exemplo. Segundo o relatório do Ministério da Saúde, especialistas de diversas áreas da saúde observaram que certos padrões individuais tem maior propensão ao comprometimento do Sistema Nervoso Central. Ao mesmo tempo, existem evidências de que o Zika seja neurotrópico, fato já demonstrado em modelos animais. Essas constatações estão de acordo com a nossa classificação desse tipo de doença como de origem mista, isto é, quando os fatores intrínsecos e extrínsecos se equivalem.

Na verdade, por enquanto, a relação do Zika virus com malformações do sistema Nervoso Central está fundamentada em dados estatísticos na sua grande maioria. A Polinésia Francesa, por exemplo, notificou um aumento incomum de pelo menos 17 casos de malformações do Sistema Nervoso Central em fetos e recém-nascidos durante 2014-2015, coincidindo com o Surto de Zika vírus nas ilhas.Do mesmo modo que no Brasil, as autoridades de saúde da Polinésia Francesa também acreditam que o vírus Zika pode estar associado às anomalias congênitas, caso as gestantes estivessem infectadas durante o primeiro ou segundo trimestre de gestação.

De qualquer modo, a maioria dos casos parece ter evolução benigna. O Ministério da Saúde começou a receber notificações e monitorar casos de doença exantemática sem causa definida na Região Nordeste a partir do final do mês de fevereiro de 2015, com relato de casos nos estados da Bahia, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe e Paraíba, todos os casos apresentando evolução benigna com regressão espontânea, mesmo sem intervenção clínica, com mais de 6.800 casos identificados até aquele momento.

Abrindo um parêntese, vale lembrar que a linhagem do virus identificada no Brasil é asiática e não africana e estudos publicados 25 de novembro de 2015 indicam adaptação genética dessa linhagem. Vale também lembrar que existem várias etiologias para a ocorrência da microcefalia congênita e pós-parto como se pode ver no quadro fornecido pela pubmedcentral.nih.gov

slide A

Voltando à Homeopatia Clássica de Samuel Hahnemann, lê-se no parágrafo 101 do Organon o seguinte: “Pode ocorrer facilmente que num primeiro caso de doença epidêmica apresentada ao médico este não tenha imediatamente um quadro completo de sua natureza. É somente através de criteriosa observação de cada um desses males coletivos que ele pode se familiarizar com a totalidade de seus sinais e sintomas”. No momento atual do conhecimento sobre as manifestações dessa doença, os sinais e sintomas parecem ainda não ser suficientemente claros e modalizados para se chegar a um gênio epidêmico adequado, como se pode ver no quadro a seguir.

slide B

A repertorização até os dez primeiros medicamentos não traz nenhum dos esperados para esse tipo de Epidemia.

slide C

Tal análise e resultados nos remete à segunda parte do projeto que consiste em acompanhar os dados fornecidos periodicamente pelos órgãos oficiais de saúde e coletar tantos outros quanto seja possível para melhor modalizar os sintomas dessa epidemia.

Uma vez estabelecido o gênio epidêmico, isto é, o melhor medicamento para a epidemia, inicia-se a fase de experimento para verificação do impacto. Já estamos contactando alguns órgãos de saúde em regiões onde a epidemia é prevalente para iniciarmos os testes de eficácia preventiva e também no tratamento de pacientes infectados. Embora para alguns possa parecer um caminho muito longo, não há outra forma segura de sabermos ao certo o quanto a terapêutica homeopática pode útil neste caso.

De qualquer maneira, nossa esperança de sucesso é bastante grande e fundamentada em pesquisas anteriores e até mesmo em relatos sobre o método utilizado pela Homeopatia Clássica de Samuel Hahenamnn, como se pode ver no relato a seguir, publicado no livro escrito por Bradford sobre sua vida e suas cartas:

Quando o Cólera eclodiu em Daka nenhuma ajuda médica pode ser obtida de Papa, em razão da prevalência do Cólera naquele lugar; não estando disposto a ver os meus súditos morrerem sem fazer um esforço para salvá-los, experimentei curar a doença com Cânfora, como recomendado pelo Dr. Hahnemann e, pelas bênçãos da Providência, meus esforços foram coroados de êxito. De cento e sessenta e um pacientes de Cólera em Daka, a quem foram administrados Cânfora, apenas quatorze morreram; a saber, oito que solicitaram assistência no último estágio da doença, e seis que após três ou quatro recidivas não puderam ser salvos. Esta afirmação pode ser comprovada por mais de setenta testemunhas juramentadas”.

Algumas sugestões têm surgido quanto à possibilidade de combate ao vetor Aedes aegypti e esperamos brevemente ter algo mais substancial sobre o assunto, sempre contando com a colaboração de todo o grupo.

É mister colocar ao final desta breve comunicação a importância das informações trazidas por todos os alunos, professores e, em especial, pela Profa. Maria Solange Gosik que com espírito crítico e elevado conhecimento da Medicina homeopática e geral, contribuiu sobremaneira para este primeiro e fundamental encontro.

Nosso próximo encontro ficou marcado para Janeiro 2016 na Universidade Federal Fluminense onde os dados obtidos até então serão analisados e fundamentarão os próximos passos da pesquisa.

Prof. Romeu Carillo Junior

Orientador Nacional dos Cursos e Ambulatórios da ABRAH.

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